domingo, 29 de dezembro de 2019

LIVRO - RESGATE NA MONTANHA e outras historias



SINOPSE

Você romperia com a namorada para não perder seu melhor amigo? Você mataria um peru de estimação para a ceia de Natal? Você acha que uma simples casca de banana poderia mudar uma vida? Você falaria de Jesus sob ameaça de morte? Estes e outros assunto s você encontrará nas 40 histórias deste livro, selecionadas dos primeiros 20 anos de publicação da revista norte-americana Insight.



Bem as histórias do livro foram divididas em categorias:

FAMÍLIA
  •  Use isto no bolso
  • Chomba
  • Quando tulipas morrem na primavera
  • Ele é meu irmão
  • Indo para casa
  • A filha do meu pai
  • Irmã
  • Luz de amor
  • Semelhança secreta
PARÁBOLAS 
  • Resgate na montanha
  • Esperando o vôo
  • O camponês e o Industrial
  • Flor espinhosa
  • O mortal, o pântano e os cristãos
  • Lucas, Miguel e eu
  • Pedindo pão
  • Quatro homens que queriam ver a Deus

PARTICIPAÇÃO

  • Ele não tem nome
  • Um ajudante e outro
  • Não preciso disso
  • Seus olhos parecem familiares
  • Por causa do natal

AMIZADE
  • Qual é o seu nomes?
  • Harry
  • Bancando o Bom Samaritano
  • Laçi negro
  • Uma multidão de três
  • Dona Rute esteve aqui
  • Mais um jogo

DESCOBERTA
  • Você será feliz lá
  • Diário de alguém Marcado para morrer
  • A janela


  • Bertie Harris, o Sr Stader e a Sra. D
  • Neve
  • A guerra acabou
  • Zorb
  • Lembranças da esposa de Ló
  • Saia em nome de Jesus
  • Todo o caminho de volta
  • Vocês não podem me matar!



Bem, este foi um dos livros que a jovem Isadora Wurzler me emprestou para a biblioteca da FAMÍLIA ADOLE.
Ele esteve na classe por um bom período para que nosso grupo de adolescentes pudesse lê-lo


Bem iniciei a leitura em 2018, logo após eu recolher os livros da classe, encerrando assim a Biblioteca pois eu teria que devolver os livros aos seus respectivos donos. Iniciei lendo o livro O MISTÉRIO DO FAROL ABANDONADO e em seguida optei por este pois o adolescente Jackson e meu esposo o havia pegado pra ler, mas os devolverem dizendo que não iriam concluir pois não gostaram do livro, fiquei curioso, pois achei que todo livro sempre tem algo interessante pra nos ensinar...

O livro trás relatos de várias várias historias, algumas parecem faltar algo, acho que esperava algum ensinamento, algo motivacional, enfim, não sei bem o que é mas faltava algo, confesso que li até a pagina 67 e ja havia desistido de continuar e iria escolher outro livro, e deixar aqui nos comentários minha opinião.

Mão não achei justo dar uma opinião sem ler o livro por completo, então decidi recomeçar ele desde o inicio, e confesso que comecei a compreender melhor as historias e reparar nos detalhes que antes não havia prestado a atenção.
Não é um livro de ensinamentos, é um livro de historias
Não são historias motivacionais mas trazem relatos de algumas historias, que a meu ver parecem ser relatos de historias reais.

Mas não me acrescentou nada, apenas conheci as histórias, não é um livro que eu o leria novamente em busca de algo, mas o li, gostei de algumas historias, mas há vários tipos de gostos e perspectivas, talvez você goste dele.


De todo o livro me encantei com 2 histórias, irei relatá-las nas linhas abaixo, vale a pena ler

LAÇO NEGRO
Cathy Parker McBride


      Atlanta, Geórgia, 1953. Eu estava no ponto de ônibus, rodeada de flocos de neve. Olhar aquela coisa bonita e fofa era como se estivesse olhando para o mundo através de cortinas rendadas. Neve não é um amigo familiar para nós, habitantes da Geórgia.

   Quando o motorista buzinou, a impaciente multidão empurrou-me para o ônibus. Eu me sentia como um bebê levando uma chicotada na grossa e espessa fralda de minha roupa de inverno.

  Quando finalmente consegui entrar no ônibus, olhei ao redor à procura de uma poltrona vazia. Não vi nenhuma - exceto lá no fundo do ônibus. Uma garota alta e negra estava sentada na poltrona ao lado.

    Mais pessoas me empurraram ao longo do corredor. Quando me dei conta, estava bem em frente áquela poltrona vazia.

    O ônibus, cheirava a mostarda, leita azedo, vinho barato. O homem gordo, apertado atras de mim, soprava um ara quente e pegajoso em minha nuca e me cutucava com sua lancheira metálica. Eu me perguntava quando ele teria tomado seu último banho. Desviei o olhar da propaganda de cigarros, acima de mim e me debrucei sobre o encosto da poltrona fazia... Então a ouvi:

    - Sente-se irmã - disse ela. Sua voz soava resoluta mas distante, como o sopro do vento.

    Voltei o olhar e esbocei um fraco sorriso.

    - Oh, eu estou bem - menti. Então rapidamente acrescentei:

    - Mas muito obrigada, de qualquer maneira. - Afinal, mamãe sempre me ensinou a ser gentil com os negros.

    Para falar a verdade, eu queria que o chão se abrisse, de tão enjoada que eu me senti. Mas uma branca não podia assentar-se no fundo do ônibus com uma negra. Isso era coisa que não se fazia, em 1953, nos estados Unidos. E por que ela havia me chamado de "irmã"? Eu nunca tinha ouvido uma negra chamar uma branca de "irmã" ou vice-versa.

    Naquele instante o ônibus deu um solavanco para a esquerda, e sem querer caí sentada naquela poltrona fazia. Isso pareceu tão-ão-ão bom. Eu não poderia ter-me mexido, mesmo que quisesse fazê-lo. De qualquer maneira, pensei que isto não faria mal algum. Havia brancos assentados uma fileira à frente.

    Durante mais ou menos cinco minutos ficamos sentadas ali, silenciosamente como sombras. Lembro-me do barulho dos negros atrás de mim, rindo e contando piadas. Mas à frente, os brancos permaneciam sérios, e ninguém se falava.

    - Bem, como esta se sentindo irmã? - ela finalmente perguntou.

    Voltei-me para mirá-la e sua beleza me surpreendeu. Sua pele era viçosa como rosas negras. Olhos misteriosos como dois oceanos. Elegante.

    - O que? - perguntei, voltando minha mente à realidade.

    - Perguntei como você se sente, irmã? Por estar sentada ao lado de uma negra!

    O que ela queria que eu dissesse? Com toda a honestidade, isso não me parecia nada incomum, mas eu não podia dizer isso.

    - Por que você me chama assim?

    - Assim como? - Ela sorriu discretamente. Ela sabia a que eu estava me referindo.

    - Ir... irmã.

    - Porque um dia nõs seremos - disse ela sem pestanejar. Então ela se voltou para a janela e observou a neve caindo. O que ela queria dizer com " um dia seremos irmãs"?

    - Quanto tempo demora a sua viagem de ônibus? - perguntei, sentindo-me desconfortável com o silêncio. 

    - Demoro uma hora para chegar a escola.
    - Que escola?
    - Minha escola de dança.
    - Você é dançarina? - perguntei com os olhos arregalados. Poucas eram as pessoas que dançavam na região de onde eu vim, no sul da Geórgia. Papai, que era pregador, sempre dizia: "A dança é um instrumento do diabo."

    - Balé - respondeu ela. - Venho praticando balé há 14 anos.

    Eu não sabia muito sobre balé. Mas pelo menos era algo respeitável.

    - E eu sou escritora. Hoje sera o meu primeiro dia na faculdade.

    Ela me observou por um instante, e então me deu um sorriso inteligente e profundo.

    - Você sabe por que escreve, irmã? - perguntou ela.

    Suas palavras alfinetaram-me a mente, e então giraram ao redor, demorando para pousar. Ninguém jamais me fizera essa pergunta antes.

    - Bem, claro - balbuciei. - É lógico que eu... sei exatamente ... bem, você me acharia boba.

    Seu olhar era um desafio.

    - Bem... é como... - hesitei, pensando se poderia confiar nela. - Bem, para falar a verdade, quando escrevo, parece que minha alma é posta em liberdade. Como se os pensamentos fossem prisioneiros e apenas eu pudesse dar-lhes liberdade.

    Subitamente me senti desprotegida com um tartaruga sem o casco. Nunca havia falado assim com ninguém, especialmente uma estranha, especialmente uma estranha negra.

    - Por que você dança? - indaguei sem pensar.

    Ela suspirou, passou os dedos entre os cabelos negros e disse:

    - Minhas amigas dizem que Sara é uma sonhadora doida - disse ela. - Veja, irmã, eu continuo pensando que através de minha dança posso acrescentar alguma coisa especial à vida das pessoas. Talvez até mesmo ajudar as pessoas a compreenderem um pouco melhor a graça de Deus! - Ela deu um pequeno e rápido sorriso e balançou a cabeça. - Não sei. Ultimamente tenho pensado em desistir de tudo.

    - Por quê? Penso como seria se eu desistisse de escrever. Seria como arrancar o coração do peito.

    - Talvez eu seja mesmo uma sonhadora doida. Talvez eu tenha de encarar o fato de que nunca alcançarei realmente as pessoas com minha dança. Afinal, que chance tem uma negra de conseguir alguma coisa? - Ela expressou um olhar distante, como se estivesse falando para alguém a quem eu nunca poderia conhecer.

    - Quando eu danço - continuou ela - as pessoas aplaudem, mas não com a alma. Eu quero alcançar a alma das pessoas, irmã! Você entende o que eu quero dizer?

    Eu compreendia o que ela queria dizer, pois sentia a mesma coisa em relação aos meus escritos.

    - Provavelmente eu nunca desistirei - suspirou ela. - Afinal de contas, uma rosa leva tempo para crescer. É isso que mamãe esta sempre me dizendo.

    Durante todo aquele dia, as idéias de Sar me acompanharam.

    De qualquer maneira, no dia seguinte fiquei contente ao ver suas roupas de balé colocadas na poltrona ao seu lado. Lugares vazios ao lado dos branco me atraíam, mas caminhei até o fundo do ônibus.

    - Es.. está ocupada esta poltrona? - As palavras estavam duras, secas e quebradas, mas quando saíram pareceram certas.

    Nossa amizade continuou assim por mais de um mês. Todos os dias Sara reservava  um lugar para mim com as suas roupas de bailarina, e eu me sentava ao lado dela. Durante uma hora de ida e uma hora de volta para casa, nossas palavras fluíam como chuvas de verão. Nossas culturas eram tão diferentes como o ar e a água, mas nossas almas eram gêmeas idênticas.

    - Quero ver você dançar - gritei para Sara uma manhã, em meio ao ronco do ônibus. - Tenho pensado nisso e queri ir ao seu recital na próxima semana.

     A testa e as sombrancelhas de Sara enrugaram-se com preocupação.

    - Acho que você não deveria ir - disse ela suavemente. - O lugar... eu poderia desapontá-la, irmã.

    - Não. Você tem lido minha histórias. Agora eu quero ver você dançar. Estou indo na próxima semana...

    Perdoe-me, mas naquela primeira vez em que vi a escola de Saa, senti como se minha alma tivesse ficado poluída. Não pude parar de chorar. Pintura descascada, cimento do teto caindo, ruas sujas de lixo e uma sala de espetáculos em que mal caberia um camundongo. O velho lugar me fez lembrar dos escombros de um barco abandonado. Linda Sara - isso não parecia certo. Mas então ela começou a dançar ... e nada mais teve importância.

    Seria preciso criar palavras novas para descever Sara naquela noite. Tudo que eu posso dizer é que ela parecia um lindo pássara voando sobe um sol de verão. Cada salto e cada giro eram dados com tanta energia que ela tirou meu fôlego. E a sua graça quase me sufocou.

    Quando a música parou, ninguém se moveu. Apenas ficaram sentados ali, envolvidos em um doce berço de emoçoes. Finalmente, alguém na fila da frente começou a aplaudir. Vagarosamente no início, como se cada palma fosse pensada e quase dolorosa. Então outra pessoa aplaudiu, e outra, e outra, até que a explosão de palmas engolfaram o ambiente. Nossas Lágrimas tambem foram nossos aplausos.

    Talveaz por cinco minutos, as palmas retumbaram como um trovão naquela sala. Não conseguíamos parar. A senhora negra ao meu lado curvou-se e sussurrou algo em meu ouvido, mas a ignorei. Eu precisava ficar a sós com a vitória de Sara. Eu queria acreditar que meus escritos também podiam impressionar desse modo as pessoas. mas a velha senhora não desistia.

    -Você ja viu algo assim antes, garota? - gritou ela. - Ela me faz pensar em... eu nem sei. Laço, talvez. É, sim, aquela garota me fez pensar em uma pela de fino laço negro.

    Laço negro? Suas palavras me confundiam. Pareciam lindas, mas específicas também. Laço negro. Laço negro. Minha mente acariciou as palavras, tentando compreender o significado. Laço.

    Observei Sara enquanto seus braços giravam, erguidos acima de seu brilhante corpo e então flutuavam até ao chão na forma de um arco final. "Ela é como um laço", pensei. Laço negro. Mas por que as palavrars soavam tão estranhas, tão imcomuns? Então uma idéia esquecida pairou sobre mim e olhei para Sara com outros olhos. "Negra", pensei. Negra.

    Minha irmã é negra.

    


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A 2º historia que mais me encantou neste livro é a que irei relatar abaixo 
e ela é baseada em fatos reais, entao boa leitura


VOCÊS NÃO PODEM ME MATAR!
Stanley Maxwuel


Esta história verdadeira revela como, durante a Revolução Cultural na China, alguns cristãos ainda exerciam sua fé em Deus. 
O Sr, Wong (pseudônimo) agora vive no sul da China.


"Você conhece o meu amigo Jesus"?, perguntava frequentemente o Sr. Wong.

Para algumas pessoas, essa pergunta pareceria fora de lugar por duas razões: Primeiro, porque o Sr. Wong era um chinês expressando seus sentimentos pessoais a respeite de um amigo (algo raramente feito por chineses). Em segundo lugar, ele estava expressando seus sentimentos sobre Jesus na China comunista, numa época em que falar sobre qualquer pessoa, exceto o Presidente do Partido, Mao Tsé-tung, podia resultar em prisão ou até mesmo num tiro na cabeça;

Persuadir pessoas a crer em Jesus (ou angariar prosélitos, como os comunistas diziam) era ilegal na China e ainda é até esta data. Assim, a pergunta do Sr. Wong era realmente ousada.

Entretanto, o Sr. Wong, que tinha mais de 60 anos de idade, persistia em fazer sua pergunta todo dia, para cada pessoa que encontrava. Não parecia lhe importar que as pessoas estivessem sendo aprisionadas e mortas cada dia pelos jovens Guarda Vermelhos do Governo.

O Sr. Wong apenas queria que todos conhecessem seu amigo Jesus. Ele não estava preocupado com o fato de que alguém poderia denunciá-lo. Mas alguém deve tê-lo denunciado, pois um dia o Sr. Wong foi visitado pelos jovens de roupa azul com tiras vermelhas nos braços. Ele estava esperando que viessem.

- Ouvimos dizer que o senhor tem falado sobre seu amigo Jesus - disseram eles com impertinência.

- Sim, tenho - respondeu o Sr. Wong, reconhecneo esses jovens como membros da notória Guarda Vermelha. - Vocês conhecem meu amigo Jesus?

- Pare" - ordenaram os guardas vemelhos. - O senhor não sabe que é ilegal falar sobre Jesus? Marx diz que a religião é o ópio do povo. É hora de o senhor se libertar de todas estas bobagens feudais e acompanhar a nova China. Acorde e veja a insensatez de todo o seu liberalismo burguês e das idéias ocidentais. Você deve seguir o que é dito no pequeno livro vermelho de nosso grande líder, Mão Tsé-tung.

- Não posso - respondeu o  Sr. Wong.

- O senhor não vai parar com suas atividades contra revolucionárias? - gritou um dos Guardas Vermelhos.

- Não posso parar de falar sobre meu amigo Jesus, se é isso o que você quer dizer - respondeu calmamente o Sr. Wong. - Jesus é o meu melhor amigo, e Ele pode ser seu amigo também.

- Nós temos uma lei! - vociferou o Guarda Vermelho.

- Eu conheço a lei.

- O senhor conhece a lei! E sabe o que fazemos com as pessoas que desobedecem a lei?

- Sei.

- Nós as prendemos!

- Estou pronto. Minhas coisas já estão arrumadas. - O Sr. Wong pegou sua caixa com poucos pertences. - Podem me levar.

- Ótimo. Talvez na prisão o senhor possa ser reeducado para abandonar os seus errros. Talvez na prisão o senhor venha a reconhecer a correção do partido do povo. Não vamos tolerar contra-revolucionários. A revolução do povo deve ir avante. O senhor é um contra-revolucionário! Soldados! O chapéu de asno!

Um Guarda Vermelho se apressou a executar a ordem do líder, e enfiou um chapéu algo, de papelão, na cabeça do Sr. Wond e o empurrou porta afora, para as ruas empoeiradas.

Outro guarda segurou a cabeça do Sr. Wong para baixo, enquanto caminhavam. Os Guardas Vermelhos formaram uma procissão, marchando pelas ruas sujas, e passando por intermináveis multidões, alardeando os crimes do Sr. Wong para as massas. As notícias do aprisionamento do Sr. Wong tinham se espalhado amplamente quando os Guardas Vermelhos desfilaram no pátio da prisão.

Mas se os Guardas Vermelhos pensaram que poderiam silenciar o Sr. Wong, colocando-o atrás das grades, estavam enganados. Na prisão ele encontrou muitos companheiros desejosos de conhecer seus amigo Jesus e conversou sobre Ele.

Irados, os guardas da prisão o chamaram par ainterrogatório. Eles acharam que era hora de ensinar-lhe uma lição.

- O senhor sabe por que esta aqui, Sr. Wong?

- Por falar sobre meu amigo Jesus.

- Certo. E porque o senhor continua a falar sobre Ele? Não sabe que é proibido falar sobre Jesus na China?

- Sei.

- Então vai parar?

- Não. Eu nao posso parar de falar sobre meu amigo. Prisioneiros solitários precisam conhecer Jesus. Este é o meu dever.

- O seu dever é estudar e obedecer aos corretos ensinamentos do Presidente Mao, em seu pequeno livro vermelho. O senhor deveria estudar os ensinamentos de Mao com os outros prisioneiros. Sabe o que lhe acontecerá se não parar de falar sobre este supersticioso liberalista burguês?

- Não - reconheceu o Sr. Wong.

- Nós o enviaremos a uma prisão mais severa!

- Tudo bem - disse o Sr. Wong. - Eu não tenho medo. Continuarei falando sobre meu amigo Jesus onde quer que vocês me coloquem.

- Então o levaremos embora! - gritou o guarda.

- Podem me levar. Estou pronto.

Os guardas notaram que a sacola do Sr. Wong estava arrumada.

Eles o transferiram para uma prisão mais rigorosa. Mas lá, também, ele perguntou aos prisioneiros se conheciam seu amigo Jesus. E lgo se formou um grupo de pessoas que falavam sobre Jesus com ele. Os guardas responsáveis pela reeducação do Sr. Wong ficaram mais irados do que nunca. E decidiram ensinar-lhe uma lição da qual jamais se esqueceria.

- O senhor sabe porque esta aqui? - perguntaram eles.

- Sim.

- Porque?

- Porque falo sobre meu amigo Jesus.

- Correto. O senhor não sabe que é ilegar falar sobre Jesus?

- Sim.

- O senhor vai para com esta superstição feudalista? - perguntou o guarda encarando o Sr. Wong nos olhos.

- Eu não posso parar de falar sobre Jesus.

- Então não vai parar?

- Não.

- O senhor tem que parar! Nós temos uma lei! - O tom de voz do guarda era tão imperioso que quase poderia eletrizar os mortos

- O senhor não pode me impedir.

- É isso o que pensa? Sabe o que lhe faremos se não parar de falar sobre esse liberalismo burguês?

O guarda examinou a ficha do Sr. Wong, para ver se podia usar alguma informação contra ele. Seu dedo assinalou uma linha, e um raro sorriso se espalhou por seu rosto.

- O senhor é um causador de problemas, um desordeiro. Já foi transferido uma vez. Precisamos ensinar uma lição a arruaceiros como o senhor. Vamos transfer-lo para o campo de trabalhos forçados de Qinghai. Lá veremos se não conseguiremos libertá-lo desse ópio religioso ao qual o senhor se apega tão teimosamente. São pessoas assim que retardam o progresso da ditadura justa e benevolente do povo.

O Sr. Wong engoliu em seco, mas murmurou um corajoso "levem-me, estou pronto". Ele pegou sua bagagem e seguiu os guardas.

Qualquer pessoa enviada pela longa estrada a Qinghai, durante a Revolução Cultural, seria um pavor mortal, pois esse era um lugar onde você poderia entrar, mas jamais sair. O Sr. Wong se perguntou se Deus o protegeria, como fez com Daniel, ou o deixaria morrer, como no caso de Estêvão.

Qinghai é uma terra plana, árida, com solo vermelho e duro e moitas de capim verde. Uma das principais razões por que os prisioneiros não voltavam de Qinghai, é que o capim que crescia ali, era venenoso. Os guardas da prisão racionavam tanto a comida dos prisioneiros e os forçavam a um trabalho tão pesado, que para não morrerem de fome, muitos tentavam comer o capim, e então morriam envenenados.

Se alguem tentasse escapar, não havia lugar para onde ir. O prisioneiro podia ser facilmente encontrado na superfície plana do terreno. Além disso, o clima em Qinghai é ventoso o ano todo, insuportavelmente frio a noite, mesmo no verão, e terrivelmente frio no inverno. Se o vento ou o frio não acabasse com um prisioneiro fugitivo, o ar rarefeito o faria.

O Sr. Wong ainda não havia encontrado ninguém que tivesse sido libertado de Qinghai. Ele não esperava ser libertado nem planejava escapar, mas sabia que não precisava temer, pois Deus estava com ele.

Os guardas o escoltaram até uma sala, para doutriná-lo.

- O senhor sabe por que esta aqui? - a pergunta estava começando a soar como um disco quebrado.

- Porque eu falo sobre meu amigo Jesus. -Ele respondeu tão pacientemente como antes.

- O senhor não pode falar sobre Ele.

- Eu sei.

- E então, vai desistir?

- Não, não posso.

- Sabe o que faremos com o senhor se não parar?

- O que poderão fazer? Vocês não podem me matar! - O próprio Sr. Wong não podia acreditar no que ouvira ele mesmo dizer. Por que tinha ele dito tais palavars?

Os olhos dos guardas brilharam ferozmente. Olharam um para o outro, e entao acenaram com a cabeça. "Esse velho esta nos desafiando", pensaram eles. "Quem é ele para dizer que não podemos matá-lo?" E esfregaram as mãos mentalemnte.

Então levaram o Sr. Wong para outra sala e aplicaram-lhe uma forma de tortura da Dinastia Qing. Os guardas amarraram os braços do Sr. Wong atrás das costas, daí amarraram uma corda ao teto e o penduraram pelos braços. Colocaram uma pedra de moinho ao redor de seu pescoço para torná-lo mais pesado. Então apanharam pás e passaram a atirar-lhes montes de pedregulhos.

No final do dia, o guarda perguntou:

- Agora está disposto a parar de falar sobre esse Jesus absurdo?

O Sr. Wong sentia tanta dor que ansiava firmar novamente os pés no chão. Tinha a sensação de que os braços iriam se soltar de seus ombros. Estava ferido e sangrando no corpo todo, e especialmente no rosto. O mau cheiro de sangue fresco e seco obscureceu sua sensibilidade. A dor que estava sofrendo gritava-lhe para que dissesse "sim", que desistiria. Ele até pensou que teria de render-se, mas não hoje. Amanha talvez, mas por causa de seu amigo Jesus, não faria isso hoje.

- Não. Não posso para de falar sobre meu amigo Jesus. - O Sr. Wong pensou que sua voz soava separada de si mesmo.

Os guardas o deixaram pendurado.

No dia seguinte os guardas entraram outra vez na cela do Sr. Wong. Outra vez atiraram pás e mais pás de pedras pontiagudas contra seu corpo, e fizeram-lhe a mesma pergunta:

- Vai parar de falar sobre o seu Jesus absurdo?

A dor era muito pior no segundo dia. Seu corpo sangrava mais facilmente, porque as pedras reabriram as feridas do dia anterior. As cascas de feridas que não se abriram, coçavam muito, mas ele não podia coçá-las. Agora o odor de seu corpo se misturava com a excessiva quantidade de dióxido de carbono na cela, deixando-o a ponto de desmaiar. O Sr. Wong começou a sentir-se como que separado de seu corpo. "Oh, como seria bom estar num piso firme ao invés de ficar balançando na sala. " Outra vez ele foi tentado a dizer sim, mas não - talvez ele o fizesse amanhã, mas por causa de Cristo, hoje não.

- Não - ele se ouviu dizer outra vez - não posso parar de falar sobre meu amigo Jesus. - Outra vez a guarda o deixou pendurado.

os guardas reentraram em sua cela todos os dias, durante uma semana. Diariamente continuavam a tortura elhe faziam a mesma pergunta. E de cada vez o Sr. Wong sentia a mesma tentação, mas dva a mesma resposta.

No sétimo dia pernsaram que ele estava morto, e por isso o tiraram dali e o jogaram em meio a uma pilha de mortos. Mas algum tempo mais tarde o Sr. Wong voltou a si e encontrou-se prostrado sobre centenas de corpos deteriorados e malcheirosos. Rastejou para fora da pilha de mortos e dirigiu-se ao campo, para assombro dos outros prisioneiros e embaraço dos guardas. Eles não tinha sido capazes de matá-lo!

Por algum tempo os guarda pensaram que seria melhor deixá-lo sozinho. Quando o Sr. Wong entrou no campo, seu rosto e corpo estavam cobertos com cascas de feridas da tortura. Mas, surpreendentemente, logo sua pele estava clara e saudável outra vez e as dores em seus braços e costas desapareceram. As cascas soltaram-se facilmente e sua pele ficou macia. Não ficou uma só sicatriz. O Sr. Wong agradeceu a seu amigo Jesus, por curá-lo milagrosamente.

Outra vez o Sr. Wong começou a perguntar a seus colegas de prisão:

- Você conhece meu amigo Jesus? - Muitos ficaram interessados em falar com ele sobre Jesus, e logo se formou um grupo de seguidores que gostavam de conversar sobre seu amigo Jesus.

Frustrados, os guardas decidiram que era hora de ensinar-lhe uma lição real. E levaram o Sr. Wong para uma cela.

- O senhor sabe por que está aqui?

- Sim. É porque gosto de falar sobre meu amigo Jesus - disse o Sr Wong confiantemente. - Ele pode ser seu amigo também.

- Cale a boca - gritou o guarda da prisão.

O Sr. Wong parou de falar.

- O senhor sabe que não pode falar desse Jesus. É contra a lei.

- Eu sei.

- E então, vai parar?

- Se o próprio Presidente Mao estivesse aqui, e me fizesse a mesma pergunta, eu assim mesmo diria que não posso parar de falar sobre meu amigo Jesus.

Enfurecido, os guardas agarraram o Sr. Wong, perversamente lhe quebrando os braços e as pernas, e então o jogaram outra vez na pilha de mortos.

O Sr. Wong caminhou de volta ao campo naquele mesmo dia. Agora, mais prisioneiros do que nunca estavam interessados em conhecer o amigo especial do Sr. Wong.

Os guardas teleraram as atividades do Sr. Wong novamente, durante algum tempo, mas entao decidiram que era hora de ensinar-lhe uma lição que faria cessar seu testemunho de uma vez por todas. Eles o haviam torturado e lhe quebrado os ossos, ma tinham falhado em matá-lo. Se eles não podiam matá-lo talvez a Natureza pudesse.

Era inverno e a temperatura estava terrivelmente fria - bem abaixo de zero. Tiraram-lhe as roupas e amarraram-lhe as mãos e os pés em um poste, ao ar livre. Talvez ele estivesse inconsciente da primeira vez que o jogaram na pilha de mortos. Talvez não lhe tivessem realmente quabrado as pernas e por isso pôde caminhar ileso, de volta para o campo. Talvez seu corpo fosse naturalmente imune aos venenos do capim de Qinghai, pois ficara bem nutrido com esse material. Mas o frio o mataria, eles riam para si mesmos. Dessa vez eles tinham certeza de que se veriam livres desse homem problemático.

Deixando sozinho no escuro, o Sr. Wong pensou em suas alternativas. Ou morreria congelado ou oraria a Deus com confiança.

Ele orou a seu amigo Jesus. Uma presença veio e saiu. As cordas estavam soltas! Ele retorceu as mãos e os pés e conseguiu desembaraçar-se das cordas. Estava livre! "Um anjo deve ter desamarrado as cordas", pensou ele.

Fazendo exercícios, consguiu manter-se quente durante a noite. Mas quando o novo dia começou a raiar, o Sr. Wong começou a preocupar-se, pois se os guardas o encontrassem solto, cupariam seus amigos no campo, com os quais ele havia conversado sobre Jesus. Os guardaas poderiam torturá-los, ou até mesmo matá-los.

Ele não queria causar-lhes tristezas involuntárias, e por isso amarrou outra vez seus tornozelos, facilmente, mas amarrar os punhos, atras das costas, era impossível.

Ele precisva de mais um par de mãos! Mas então como amarraria ele esse outro par? Parecia não haver solução humana.

Assim, ele orou outra vez: "Senhor, enviaste meu anjo da guarda para desamarrar-me, agora, por favor envia-o de volta para amarrar-me outra vez!"

Ele sentiu as cordas serem apertadas ao redor de suas mãos e entao ser amarrado ao poste. E foi bem a tempo, pois já podia ver os guardas se aproximando.

Quando os guardas viram que a pele do Sr. Wong estava rosada, e não azulada, ficaram extremamente irados. Por que não conseguimos matar esse homem que sempre falava de Jesus?

Com muita má vontade, eles começaram a desamarrar os nós. Soltar as cordas dos pés não foi problema, mas nos punhos, o nó estava tão apertado que o guarda levou meia hora para soltá-lo. O Sr. Wong não pôde deixar de pensar intimamente que ou o seu anjo da guarda não conhecia sua própria força, ou tinha um maravilhoso senso de humor.

Mais tarde, de volta a prisão, o Sr. Wong se tornou conhecido como o homem que os guardas da prisão não puderam matar. Desde entao, os guardas pararam de tentar ensinar-lhes uma lição, e olharam para outro lado quando ele falava sobre seu amigo jESUS.

Os anos se passaram. O presidente Mao morreu e a Camarilha dos Quatro rapidamente assumiu o controle. Então em 1979, o reformador Deng Xiao Ping substituiu a notória Camarilha. O próprio Denga havia sofrido sob a Revolução Cultural e as lembranças estavam vivas em sua mente. Deng queria libertar os que estavam na prisão, e assim o Sr. Wong foi um dos primeiros a serem libertados, em 1979, e mais tarde recebeu uma carta de reabilitação. Ele é um dos poucos sobreviventes de Qinghai. Dos 1500 prisioneiros que entraram ali, apenas 100 saíram vivos.

Na época em que esta história foi escrita, o Sr. Wong estava com mais de 80 anos, mas ele parecia 20 anos mais novo. E ele possuía energia suficiente para cansar um homem com a metade da sua idade.

Muitas pessoas na China pensam que desperdiçaram 10 anos de sua vida durante a Revolução Cultural, ma o Sr Wong tem uam recompensa especial de sus assim chamados anos perdidos. Ele orgulhosamente mosta sua coleção de cartas de outros sobrevimentes de Qinghai, dizendo que sua experência na prisão os inspirou a acreditarem que seu Deus existe. Eles lhe agradecem por lhes ter falado sobre seu amigo Jesus. E ele ainda fala sobre seu amigo Jesus a quem quiser ouvir.


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